O motorista da ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), interceptada por homens armados que mataram um casal dentro do veículo de emergência, relatou a ação dos criminosos e disse que depois de atirar nas vítimas, os homens ainda pediram desculpas aos socorristas pelo ataque.

O motorista e uma técnica de enfermagem que estavam na ambulância não tiveram ferimentos.

"Na hora que terminaram de executar eles correram para entrar no carro e ainda pediram desculpa para gente: 'Samu, vá desculpando aí'", relata o motorista que prefere não se identificar.

O ataque ocorreu na noite de segunda-feira (29), em um trecho da Estrada do Derba, no bairro de Fazenda Coutos, perto do Hospital do Subúrbio. O homem alvo do ataque tinha saído da UPA de Santo Inácio e estava sendo transferido para o Hospital do Subúrbio, devido a um ferimento também por arma de fogo. Os criminosos mataram ele e a companheira dele, que o acompanhava no momento da transferência de unidade.

“Nossa equipe se encontrava na base e fomos solicitados para fazer a remoção de um baleado para o Hospital do Subúrbio. A gente colocou ele na unidade [ambulância] e começamos a fazer o processo. Fomos andando normal, mas quando chegou na Estrada do Derba, fui obstruído. Um carro me cortou pela lateral esquerda, com os vidros pretos, onde percebi a situação e informei a colega pra ela se tranquilizar, que era um carro suspeito”, relembra o motorista.

Segundo o motorista, logo depois de fazer a ultrapassagem na ambulância, os homens armados e encapuzados andaram mais alguns metros e, em seguida, interceptaram o veículo.

“Dei espaço para esse carro seguir em frente, só que eu senti que eles estavam ‘segurando’, freando o tempo todo. Quando chegou em frente no cruzamento do Subúrbio que fui fazer o retorno, fui obstruído. Desceram três homens armados, encapuzados fazendo pressão psicológica, pedindo para abrir a porta da unidade”, relata o motorista.


O motorista da ambulância disse também que um dos criminosos era agressivo em comparação com os outros dois e que pediu para os suspeitos que não fizessem nada com ele e com a colega.

“O que estava perto de mim era mais ríspido, os dois eram até mais maleáveis. Eu só gritava para ele segurar a onda: ‘'segura, segura, que somos Samu, não tem nada a ver com a gente, a gente não entra em nada. Só estamos transportando'. Os que estavam do lado direito eram os mais tranquilos, pediu a colega para sair. O que estava do outro lado era mais ríspido, tentei acalmar ele de todas as formas”, conta.

Ainda de acordo com o motorista, um dos criminosos tomou a chave da ambulância, mandou ele desligar o veículo e foi nesse momento que ele conseguiu se afastar da situação.

"Do lado de fora, só ouvimos os disparos”, relata.

Apesar de tentar manter a colega tranquila, o motorista revela que por causa do susto, ele passou mal e precisou de atendimento médico.

“Nesse momento, nos encontramos um pouco abalados pela situação, eu e a colega. Foi uma situação muito delicada, mas como sempre, saindo do trabalho, todos os dias agradecendo a Deus, pedindo proteção e graças a Deus, estamos aqui em vida para contar essa história”, disse o motorista.

Segundo o coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em Salvador, médico Ivan Paiva, o Samu conta com apoio da Polícia Militar para atender situações que envolvam ferimentos a tiros ou por arma branca. Porém, de acordo com a PM, não houve acionamento prévio para atender a ocorrência e que a PM foi chamada após o caso.

Ainda segundo o coordenador do Samu, uma investigação será aberta para saber o motivo da ambulância não estar com escolta policial. Ainda não há informações sobre autoria e motivação do crime.